James se destacou com 3 filmes na 65ª edição do festival de Berlim. O norte-americano faz parte do elenco de Queen of the desert, de Werner Herzog (apresentado na última sexta), Every thing will be fine, de Win Wenders (programado para esta segunda), e I am Michael, de Justin Kelly, projetado hoje na Seção Panorama.
A agenda de Franco continua disputada, com a exibição de "I Am Michael" na Mostra Panorama. Antes da festa de lançamento do filme no lounge Glashutte Original, no topo do hotel Hyatt da Potsdamer Platz, uma das mais belas vistas da cidade, Franco conversou sobre o filme.
Visivelmente cansado, o ator chegou à entrevista de óculos escuros e com vinte minutos de atraso, mas disposto e simpático. Sobre um ano com tantos filmes na competição, ele diz que não foi planejado. "As pessoas gostam de dizer que são muitas coisas, mas eu vejo que tudo que faço está conectado de uma forma ou de outra. E atrás de tudo isso está meu interesse em coisas diferentes, perseguir novas formas de criatividade e jeitos diferentes de reinventar e encontrar novas abordagens, seja na produção, na escrita ou na direção, elas são apenas saídas alternativas. Gosto de ter controle sobre a estrutura do filme, como é filmado, quando me dirijo faço isso, mas é sempre bom só atuar e mudar um pouco de posição."
Durante a entrevista, ele comentou que, diferente do personagem de Michael, a sua busca espiritual foi relacionada a profissão. "Tive momentos em que estava buscando diferentes formas de viver, mas foi profissionalmente. Estava infeliz com a forma como estava me conduzindo como profissional de cinema. Estava me fazendo infeliz, por isso defini novos jeitos de trabalhar. Não tive crise de fé como ele, mas tive muitos questionamentos na minha vida aos 27, 28 anos. Então voltei a estudar."
RÓTULOS SEXUAIS
Questionado se assim como o personagem, já se viu em uma crise de identidade sexual, Franco, diz que "rótulos podem ser restritivos, uma ferramenta para segregar e discriminar as pessoas, então às vezes pensamos em rótulos como algo ruim. De outra forma, se você leva ao extremo, as pessoas podem se esconder."
Mencionando uma conversa com o diretor de programação do festival, que valoriza conteúdos considerados tabu, ele reflete que "uma das vantagens é que hoje temos uma comunidade, uma identidade como comunidade. Dessa forma, os rótulos podem ser algo realmente positivo. Uma comunidade pode lutar e não mais se esconder nas sombras. Acho esse tema realmente complicado de tratar". A discussão sobre rótulos é um dos pontos principais de "I Am Michael".
Se o ator tem opiniões tão liberais sobre identidade sexual, nem sempre seus filmes refletem isso. Em "A Entrevista", por exemplo, o roteiro faz piada com uma fictícia entrevista em que Eminem sai do armário e se declara gay. "É estranho, não escrevi aquelas cenas. Não faço piadas gays. Pensando em um âmbito geral, ainda existe um pouco de homofobia, eu acho. Os filmes que faço com Seth são mais focados no público masculino e nessa ansiedade relacionada a relações entre pessoas do mesmo sexo. Para mim, é apenas é um comentário sobre essa grande ansiedade e não um comentário depreciativo relacionado à comunidade gay. É mais tocar em um assunto no humor que é cômico. É um desconforto maior da comunidade hetero do que da comunidade gay."
Sobre a programação dos próximos dias, o ator diz que "é uma grande honra estrear com Wim Wenders. É um momento incrível, ele está de volta ao festival depois de tanto tempo. É interessante ver esses dois gigantes do cinema alemão comigo. Mas para ser honesto, fiquei mais animado quando descobri que 'Michael' viria. É um filme que estou junto desde o começo, ajudei a produzir e Justin [Kelly, diretor] e eu estamos trabalhando juntos há tempos. É legal vê-lo em um momento importante."
SOBRE BERLIM
"Como artista plástico, uma vez fiz uma exposição em Nova York e recebi um espaço razoável nos jornais. Quando eu trouxe os mesmos trabalhos para uma galeria de Berlim, os críticos da cidade escreveram resenhas bem maiores, com muito mais espaço e bastante aprofundamento", comentou Franco "Gosto da comunidade berlinense porque aqui eles levam a arte a sério, sem preconceitos, independentemente do estilo do filme que você apresenta", declarou o ator.
INFLUÊNCIAS
"James Dean, Montgomery Cliff e Marlon Brando são os meus heróis, são meu Panteão", afirmou Franco na conferência de imprensa. "Eles são influências presentes em todos os meus trabalhos", respondeu o ator ao ser questionado se havia uma referência a Brando no seu personagem em I am Michael: "O cinema é uma arte bastante comercial e alguns atores são contaminados por essa influência do mundo dos negócios. Em não chego a me incomodar com isso, mas me identifico com Brando por não usar esse tipo de critério, ser honesto comigo mesmo e procurar papéis artisticamente mais interessantes."
FIXAÇÃO
Há 15 anos, James Franco interpretou James Dean (1931-1955) em um telefilme sobre a vida do icônico astro de Juventude transviada. Em 2015, no Festival de Berlim, Dane Dehaan assume o mesmo papel em Life, de Anton Corbijn. Tanto Franco como Dehaan também foram o vilão Harry Osborn (o Duende Verde) em filmes do Homem-Aranha (respectivamente em 2007 e 2014). James Franco viveu ainda o escritor Allen Ginsberg na cinebiografia O uivo (2010). Dane Dehaan foi o melhor amigo de Ginsberg em Versos de um crime (2013). "Esse cara deve ter alguma fixação por mim", brincou Franco na entrevista coletiva de domingo.
MICHAEL
Baseado em fatos reais, ambientado em São Francisco, I am Michael retrata a vida de Michael Glatze, ativista da causa LGBT que ficou famoso por seu engajamento, mas que depois tentou mudar completamente sua imagem a ponto de tornar-se pastor evangélico. "Nos esforçamos bastante para retratar o personagem sem levar a julgamentos sobre nenhum dos dois lados", explicou James Franco, que também é produtor do filme e levou o projeto adiante por sugestão do cineasta Gus Van Sant (Milk). "Estávamos mais interessados em questões mais interiores, em decifrar o que faz uma pessoa praticamente mudar de identidade", esclarece o ator.
Créditos Diario de Pernambuco e Cinema Uol




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